sexta-feira, 5 de julho de 2019

Demônio de Neon e como contar uma História

Texto escrito por Cinthia Campos




Recentemente em uma noite de insônia, sem ter o que fazer, resolvi assistir um filme que me fora recomendado há muito tempo - Demônio de Neon (Neon Demon, 2016); do diretor dinamarquês Nicolas Winding Refn (Drive, Só Deus Perdoa). 

Escolhi este dentre vários outros da minha lista por um único motivo: MEUS AMIGOS DIZIAM SER GENIAL!, então decidi confiar e assistir ao filme e pasmem, eu não achei nada demais. Porque todos diziam que é incrível, bem construído e lindo. Bom, lindo ele é, esteticamente falando é uma obra de arte, cores vibrantes e chamativas, belos cenários e, é claro, belas atrizes (e sim, aqui isso é importante) porém é só isso, é apenas um filme lindo. Ao terminar ao filme fui reclamar com meu namorado “Amigo eu não entendi muito bem. É só isso? Eu não achei nada demais, é só um filme bonito”

Foi quando meu deu um estalo na cabeça “É ISTO ENTÃO” é aí que está a genialidade do filme, o trabalho dele é ser apenas bonito, raso e incrivelmente bonito, pois se trata de pessoas rasas e bonitas (eu me senti o próprio Albert Einstein ao pegar o raciocino após uma pequena reflexão). O diretor consegue contar com maestria sua história, não utilizando o filme para contar uma história e sim usando o próprio filme como PARTE da história. Isso não faz muito sentido? Ok, tentarei explicar



O filme começa com a jovem Jesse (Elle Fanning) de apenas 16 anos chegando em LA com o sonho de ser modelo, porém isto não será tão fácil como ela imaginara. Por possuir uma beleza natural se vê ao redor de mentiras, inveja e traições. Jesse iria descobrir o quão difícil e cruel é o mundo da moda e isso está em qualquer sinopse por aí. Minha intenção aqui não é dizer o quanto a história é superficial, o cliché da jovem menina inocente que foge de casa rumo a cidade grande para viver seu sonho de ser modelo que todo mundo já viu como termina, não, minha intenção é dizer o quanto o filme como ferramenta contribui para a afirmação dita em certo momento do filme “beleza não é tudo; beleza é a única coisa que importa”.


E realmente, aqui beleza é a única coisa que importa. Nesse momento do filme Dean (Karl Glusman), que servia como par romântico de Jesse, discorda dizendo que beleza não importa, que a verdadeira beleza está no interior e tudo mais. Porém, o mesmo é questionado se ele teria parado para conhecer Jesse se ela não fosse bonita. Dean fica sem resposta.

Assim como as garotas da história, o filme em si não passa de uma casca bonita e ainda assim ele consegue te prender por quase duas horas, ele se torna um dos elementos da narrativa para provar o ponto passado, de que em mundo onde apenas beleza importa você deu seu tempo e atenção para um filme vazio quando poderia ter procurado um pouco mais por um filme mais profundo porém sem tanta fama.

"O trabalho do filme é ser apenas bonito, raso e incrivelmente bonito, pois se trata de pessoas rasas e bonitas"
Não estou dizendo que não há filmes esteticamente belos e profundos, ao mesmo tempo que existem pessoas bonitas e profundas, porém, você provavelmente foi fisgado primeiro pela beleza para depois parar e conhecer os interiores. Neste quesito Demônio de Neon serve como uma ótima autocrítica de como olhamos apenas o belo para só depois buscarmos algo além e quando não achamos colocamos a culpa na isca, e não em nós que fomos atraídos por ela. Por isso digo que Refn consegue com maestria passar a mensagem do longa, fazendo que o devoremos. 

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