sexta-feira, 19 de julho de 2019

A Vida não imita a Arte... ela É a Arte.

Texto escrito e editado por Pedro Terasso





Oi, sou eu de novo! Dessa vez vim espalhar a palavra sobre o meu filme favorito: Boyhood.

Começarei contando logo de cara a minha experiência pessoal, afinal é tudo que tenho pra oferecer. 

O ano é 2015, poucas semanas antes da páscoa. Nessa época eu não tinha o costume de sair durante dos finais de semana, mas adorava ficar acordado durante a madrugada, então sempre estava procurando coisas novas pra fazer na internet. Em uma dessas noites, enquanto eu rodava o catalogo do PopCorn Time, a capa de um filme me chamou a atenção.

Era uma capa simples, sem muitos detalhes, apenas um garotinho deitado na grama. Mas por algum motivo eu senti que deveria parar o que quer que eu estivesse fazendo pra assistir aquele filme.
Mas antes de começar a espalhar a palavra sobre o filme, eu preciso situar vocês, caso nunca tenham assistido.

Boyhood é um longa metragem lançado em 2014 que conta a história de vida do personagem Mason Evans Jr. (Ellar Coltrane) dos seus 6 aos 18 anos, dando ao público uma visão única sobre como se desenvolve uma vida. Diferente de tudo que vocês já viram.

O filme nasceu de uma ideia bem ambiciosa do diretor Richard Linklater, que era filmar um Slice of Life durante 12 anos. 

É isso mesmo, nada de troca de atores pra mostrar fases diferentes da história. Acompanhamos o crescimento de cada uma das crianças, acompanhando também o envelhecimento de cada um dos adultos. sentimos o tempo passar por nós enquanto o filme nos mostra referências incríveis de cada época, mesmo sendo essas muito sutis. 





Eu já assisti esse filme mais de 6 vezes durante esses 4 anos, sendo a ultima delas no fim de Dezembro de 2018, e todas as vezes um novo sentimento vem dessa obra. E nunca um sentimento negativo, é como se eu aprendesse um pouco mais sobre a vida a cada vez que eu assistisse e eu acho que vale a pena contar algumas delas aqui.

Em 2015, na primeira vez que vi, eu senti inveja de Mason, de como a vida dele era incrível, legal e de como ele estava cercado de pessoas sensacionais. Eu quis ser  Mason, sobreviver ao que ele sobreviveu, conquistar o que ele conquistou e acredito que isso foi algo que me pegou naquele ano. Boyhood era uma inspiração pra mim, era algo no qual eu poderia e deveria me espelhar.

Apos assistir algumas vezes, no ano de 2017 (eu não serei capaz de lembrar a data com exatidão), Boyhood me ajudou a passar por um momento de ira na minha vida, eu estava amaldiçoando a minha existência, e odiando como as coisas andavam ruins.
E esse filme me ajudou a lembrar que a vida é assim mesmo, que o seu caráter e o seu futuro são a combinação perfeita de cada momento da sua vida, seja ele bom ou ruim.  não importa o quão ruim se esteja, eventualmente irá melhorar.

Porém, em 2018/2019, durante a ultima vez que assisti esse filme, inesperadamente foi quando tive a melhor das experiências que a obra poderia me proporcionar. 
Assim que terminei de assistir,  notei que havia sido diferente das outras vezes, que dessa vez, eu não havia aprendido nada, que Boyhood não havia me tirado de nenhum buraco. Eu só estava feliz por ter acabado de ver meu filme favorito de novo.  O efeito nostalgia estava latente entrando em meu cérebro.

Isso me deixou ligeiramente chateado, pois senti como se parte da magia do filme estivesse lentamente desaparecendo. Porém, após 2 semanas, quando eu havia acabado de voltar de  viagem com alguns amigos, decidi tomar banho e enquanto ouvia música, e uma das músicas da trilha sonora de Boyhood (Hero –Family Of The Year, caso os leitores queiram sentir a vibe da musica) que começou a tocar da minha playlist e eu fui inundado por lembranças. Mas não lembranças do filme ou da vida do Mason, mas sim pelas minhas próprias. lembranças dessa viagem, lembranças de roles antigos, de amigos que eu perdi, dos amigos que ainda estavam ali, e  naquele momento o clique da ultima vez que eu havia assistido chegou. 

"Aquelas lembranças eram o meu aprendizado, elas estavam ali pra me mostrar que eu não precisava ser o Mason pra ter uma vida incrível, que eu não preciso me espelhar em ninguém pra ser alguém. Aquelas lembranças eram a minha vida incrível. Aqueles momentos eram o meu “Boyhood”. "


No fim das contas Boyhood é sobre isso. Não é um filme que vai te prender na cadeira com um mistério que te causa comichões até ser descoberto, ele não é um filme com cenas de ação que vão te tirar o fôlego.
Ele é um filme que vai te mostrar a vida como ela é, te fazer lembrar que o mundo é um lugar difícil, mas muito bom também, e que cada pessoa que passa pela nossa vida tem alguma coisa para nos mostrar, seja isso bom ou ruim.

Com certeza você vai se identificar com Mason em algum momento do filme. Pode ser que seja em algum dos tantos perrengues que o menino encara durante a vida, porém, pode ser que seja em algum dos momentos de glória também. Seja um ou outro, a vida é assim mesmo.

Digo com tranquilidade que a melhor decisão do meu ano de 2015 foi assistir esse filme. Espero que você, leitor, dê uma chance a ele.
Pode ser que você não goste mesmo, afinal, muita gente por aí que prefere filmes que as tirem-os de suas realidades, o que não tem nada de errado.
Se você for ao menos um pouquinho como eu, irá também descobrir um filme incrível, que irá te proporcionar felicidade apenas por estar vivo.

sexta-feira, 5 de julho de 2019

A Sorte de Viver um Dia de Cada Vez

Texto escrito por Pedro Terasso




Esse texto serve pra fazer o trabalho que a Netflix diz ter feito e não fez.

Estou aqui para falar pra você da melhor série da atualidade. Esqueçam todos esses shows fantasiosos que você assistiu e ainda assiste, vamos voltar a colocar os pés no chão e aproveitar um pouco do que a realidade tem para nos oferecer, até mesmo nos dias mais cinzas das nossas vidas.

Se por acaso você ainda não entendeu do que eu estou falando, se trata de One Day At A Time, conhecida também como “a queridinha da crítica”. ODAAT (uma forma carinhosa de chamar essa obra), é em disparada a melhor série dessa década e talvez a melhor série da história.


O show gira em torno de uma família Cubano-Americana vivendo nos Estados Unidos, tentando lidar com todo tipo de problema corriqueiro que uma vida comum em família pode proporcionar. Problemas esses que vão desde a descoberta da sexualidade de uma das personagens até um transtorno de estresse pós-traumático junto a um começo de depressão. 
E tudo isso é tratado de maneira aberta, bem humorada e extremamente didática. Deixando claro que o show se propõe a mostrar que apesar de todos os problemas, nós podemos sobreviver um dia de cada vez.





Cada personagem é perfeitamente dosado de seu humor característico e seus problemas, explicitando as mensagens que ele deve passar para o espectador.
Nada é desperdiçado nessa sérieToda linha de texto dos personagens tem algo pra passar, e muitas vezes é uma lição valiosa sobre aceitação, amor, coragem, determinação e qualquer outra coisa que serve pra nos melhorar como seres humanos.

Chega a ser complicado falar sobre essa série, sem citar nenhum spoiler sobre os episódios, pois simplesmente não existem episódios vazios, que sirvam apenas pra introdução de algo ou alguém. Como eu já disse: Nada é desperdiçado.



Porém no começo desse ano, mais precisamente no dia 14 de Março de 2019, ODAAT foi cancelado por sua até então distribuidora Netflix que alegou que a série não foi capaz de atingir o grande público da plataforma. 
A propósito, vamos falar um pouco sobre isso.

Quando o show teve seu cancelamento decretado, grande parte da internet foi à loucura, afinal, como pode um show tão aclamado pelos críticos ser cancelado? Como pode um show que mantém fortemente um público, apesar de pequeno, extremamente fiel, ser descontinuado de tal forma? Os fãs, os críticos, os autores e as estrelas do show estavam incrédulos. Como algo com tamanho potencial fora largado na geladeira por um serviço de streaming (que muitas vezes é ingrato com seus shows)?




Não levou sequer 3 dias para que os fãs de ODAAT, tentassem repetir a façanha que os fãs de Lucifer haviam feito cerca de um ano atrás.
E assim nasceu a campanha “#SaveODAAT” que foi aderida por toda a comunidade de fãs, atores do show e até por alguns críticos que não podiam suportar que uma série tão relevante sumisse em meio a tantas outras de qualidade duvidosa e que estavam em ascensão. Foram longos meses de espera, raiva e até de certa angústia, na esperança de que a Netflix abrisse mão dos direitos de criação e exibição da série ou então decidisse dar mais uma chance pra nossa querida família Alvarez.

Continuando a falar da (queridíssima) Netflix mais diretamente, quero deixar um bocado de queixas e críticas diretamente ligadas a ela. Por muitas vezes nós vemos a Netflix sendo displicente com seus shows, principalmente os menos rentáveis, podemos por assim dizer.
Claro que isso é natural, vindo de uma empresa que deve sempre buscar lucros, mas o surpreendente da Netflix se trata de como ela gosta de usar desculpas, e um egoísmo mascarado, pra esconder isso. 


Pra não fugir muito do assunto eu vou usar One Day At A Time como exemplo.
Logo após o cancelamento, ao ver os esforços dos fãs e dos envolvidos internamente, algumas outras emissoras e serviços de streaming tentaram resgatar a série, mas a Netflix estava irredutível, tudo indicava que eles estavam dispostos a enterrar o show, afinal, eles se recusavam a dar continuidade e recusavam também todas as oportunidades que outras pessoas tentavam dar ao show.  Chegando até a alegar que apesar dos esforços deles, a série não atingiu o público esperado. 



"Nada é desperdiçado nos roteiros da série... e mesmo assim, ela foi cancelada por quem abraçou a sua criação"

Eu até gostaria de acreditar neles, mas fica impossível, uma vez que eu nunca vi nada de publicidade sobre o show (Mesmo Slice of Life/Drama sendo minha categoria favorita de filmes e séries). Um exemplo se trata de todas as pessoas que conheci que assistiram a série, e haviam conhecido-a através de recomendações de amigos.
Não consigo ver esforço nenhum por parte da Netflix, tanto sobre publicidade na época do lançamento e de renovações de suas três temporadas. Quanto após o cancelamento, à empresa parecia recusar todas as chances que a obra tinha de alcançar seu auge.

Mas como o sol nasce pra todos um dia, esse dia também chegou pra família Alvarez.
No dia 27 de Junho de 2019, a Netflix (finalmente) aceitou um vender os direitos de produção e exibição para a pequena emissora Pop TV. A nova temporada deve estrear em 2020 e contará com 13 novos episódios pra aquecer nossos corações.
Agora só nos resta torcer para que o canal Pop TV chegue ao Brasil antes da data de estreia.

Para concluir: Esse texto tem como intuito convencer a todos a darem uma chance pra este show maravilhoso. Aproveitem que logo teremos uma temporada novinha em folha, e que todos que assistiram a este show, agora o amem com todo o coração. Eu prometo que você não irá se arrepender.
Afinal, como pode não se gostar de uma coisa que irá te tornar uma pessoa melhor? Te ensinar a aceitar o próximo e principalmente sobre como se aceitar?
Um viva ao retorno de One Day At A Time e um viva a todos nós, latinos!

Demônio de Neon e como contar uma História

Texto escrito por Cinthia Campos




Recentemente em uma noite de insônia, sem ter o que fazer, resolvi assistir um filme que me fora recomendado há muito tempo - Demônio de Neon (Neon Demon, 2016); do diretor dinamarquês Nicolas Winding Refn (Drive, Só Deus Perdoa). 

Escolhi este dentre vários outros da minha lista por um único motivo: MEUS AMIGOS DIZIAM SER GENIAL!, então decidi confiar e assistir ao filme e pasmem, eu não achei nada demais. Porque todos diziam que é incrível, bem construído e lindo. Bom, lindo ele é, esteticamente falando é uma obra de arte, cores vibrantes e chamativas, belos cenários e, é claro, belas atrizes (e sim, aqui isso é importante) porém é só isso, é apenas um filme lindo. Ao terminar ao filme fui reclamar com meu namorado “Amigo eu não entendi muito bem. É só isso? Eu não achei nada demais, é só um filme bonito”

Foi quando meu deu um estalo na cabeça “É ISTO ENTÃO” é aí que está a genialidade do filme, o trabalho dele é ser apenas bonito, raso e incrivelmente bonito, pois se trata de pessoas rasas e bonitas (eu me senti o próprio Albert Einstein ao pegar o raciocino após uma pequena reflexão). O diretor consegue contar com maestria sua história, não utilizando o filme para contar uma história e sim usando o próprio filme como PARTE da história. Isso não faz muito sentido? Ok, tentarei explicar



O filme começa com a jovem Jesse (Elle Fanning) de apenas 16 anos chegando em LA com o sonho de ser modelo, porém isto não será tão fácil como ela imaginara. Por possuir uma beleza natural se vê ao redor de mentiras, inveja e traições. Jesse iria descobrir o quão difícil e cruel é o mundo da moda e isso está em qualquer sinopse por aí. Minha intenção aqui não é dizer o quanto a história é superficial, o cliché da jovem menina inocente que foge de casa rumo a cidade grande para viver seu sonho de ser modelo que todo mundo já viu como termina, não, minha intenção é dizer o quanto o filme como ferramenta contribui para a afirmação dita em certo momento do filme “beleza não é tudo; beleza é a única coisa que importa”.


E realmente, aqui beleza é a única coisa que importa. Nesse momento do filme Dean (Karl Glusman), que servia como par romântico de Jesse, discorda dizendo que beleza não importa, que a verdadeira beleza está no interior e tudo mais. Porém, o mesmo é questionado se ele teria parado para conhecer Jesse se ela não fosse bonita. Dean fica sem resposta.

Assim como as garotas da história, o filme em si não passa de uma casca bonita e ainda assim ele consegue te prender por quase duas horas, ele se torna um dos elementos da narrativa para provar o ponto passado, de que em mundo onde apenas beleza importa você deu seu tempo e atenção para um filme vazio quando poderia ter procurado um pouco mais por um filme mais profundo porém sem tanta fama.

"O trabalho do filme é ser apenas bonito, raso e incrivelmente bonito, pois se trata de pessoas rasas e bonitas"
Não estou dizendo que não há filmes esteticamente belos e profundos, ao mesmo tempo que existem pessoas bonitas e profundas, porém, você provavelmente foi fisgado primeiro pela beleza para depois parar e conhecer os interiores. Neste quesito Demônio de Neon serve como uma ótima autocrítica de como olhamos apenas o belo para só depois buscarmos algo além e quando não achamos colocamos a culpa na isca, e não em nós que fomos atraídos por ela. Por isso digo que Refn consegue com maestria passar a mensagem do longa, fazendo que o devoremos.