Uma crítica escrita por Charles Oliveira
Eu confesso que estou muito nervoso com o que as próximas palavras possam gerar, possam me propor no futuro. Mas, honestamente, é como o Barry no filme: "Faça o seu futuro. Faça o seu passado.". Essa é a primeira vez que eu iriei escrever sobre um filme, então... espero que fique tudo certo.
O tão conhecido #SnyderCut. Uma hashtag que foi movida e cultivada pelos fãs ao longo de cinco anos, enfim, tem o seu resultado entregue. Antes de mais nada, tenho que assumir que eu gosto do Liga da Justiça de 2017, que o Joss Whedon costurou; mesmo com todos os erros de continuidade, os cortes e refilmagens feitas para o filme sair no prazo da Warner e seguindo o gosto do estúdio também. Eu gosto, mas concordo e dou 100% de certeza que o "corte do Whedon" é nada comparado com a visão original do Zack Snyder.
Eu gosto de pensar na forma em que o filme é resumido em poucos minutos durante a cena em que a Lois Lane é introduzida no filme. Ali é mostrado a rotina dela de pegando o café e levando pro policial, que patrulha os escombros da estatua do Superman, no centro de Metropolis, que se tornou um memorial a figura do Superman e, para Lois, era uma forma dela ainda ter contato com o Clark. Para mim, em todas as nuances, o significado do filme é resumido ali.

O filme em si, sofreu muito nos bastidores por conta dos atritos em o diretor e o estúdio; e para todos, a tragédia com a família do Zack Snyder era um ponto final. E com a entrega do filme, essa cena demonstra que a personagem pode ser traduzida para o diretor após tudo isso. Não é a toa que, nas exibições norte-americanas pelo HBO Max, há um pequeno vídeo do Zack dizendo que ele agradece ao apoio de sua esposa, ao AFSP e de seus fãs. Não é a toa que no fim, o filme foi dedicado a sua filha. Acontece que, para o diretor, esse corte o faz lembrar de sua filha e de todo o tempo que ele e sua esposa passaram no processo de luto. E nessa cena, a Lois Lane se encontra nesse mesmo processo de luto, se curando da perda de uma pessoa que era importante para ela.
Um outro detalhe que completa mais ainda essa essência, é a musica, no qual Distant Sky do grupo australiano Nick Cave & The Bad Seeds foi escolhida. Essa musica faz parte de um álbum chamado "Skeleton Tree", que foi todo escrito pelo vocalista Nick Cave, onde o principal tema do álbum é a perda e todos os processos para vencer essa dor. O vocalista utilizou da musica, um meio de poder passar por esse processo já que em 2015, ele havia perdido o seu filho em um acidente. Distant Sky compõe a cena (dando o devido destaque ao trecho "Eles nos disseram que os nossos deuses sobreviveriam a nós // Eles nos disseram que os nossos sonhos sobreviveriam a nós // Mas eles mentiram") para justificar mais ainda todo o processo deste luto e do por que a Lois Lane ainda mantinha aquela rotina; do por que ela dizer que ela gostava de ir lá.
Mas, sinceramente, mesmo sem toda essa explicação, é notório que para o diretor, esse filme era um memento da época em que a sua filha ainda estava viva. Tanto que no fim, não importa se o aspect ratio do filme está quadrado, o que importa é a satisfação e o sentimento de que aquilo era tudo que ele queria entregar no final.
Muito se perguntaram do motivo do filme ter quatro horas de duração e, até mesmo, vi que em muitos lugares a resposta é "o filme só tem quatro horas pois metade do filme é em slow-motion" (uma marca registrada do diretor). Honestamente, sinto que o filme tem quatro horas por conta do desenvolvimento dos personagens além da "santíssima trindade" que já foram desenvolvidas no Batman v Superman, já que se você ver em um grosso modo, o filme de 2017 e o filme de 2021, têm a mesma premissa que é o Batman e a Mulher-Maravilha reunindo um grupo para deter uma guerra intergaláctica e, para isso, eles precisam bolar um plano para ressuscitar o Superman.
Só que, ao contrario do filme de 2017, esse filme tem muito mais tempo para desenvolver essa guerra, tem mais tempo de colocar piadas no ponto que precisa por, tem mais tempo para demonstrar os resultados da Terra se eles perderem a guerra (mesmo que, no fim, isso não importa já que ainda não há planos de uma sequencia para o Snydercut) e ele tem mais tempo para mostrar o quão grandiosos esses heróis podem ser.
No meu ponto de vista, o filme melhorou bastante a motivação (e a aparência) do vilão Steppenwolf, com a sua ligação ao Darkseid e melhorou mais ainda o processo de retorno do Clark dos mortos, já que no filme original, ele simplesmente saia da fazenda dele e ia pra Rússia salvar a Liga. Aqui a gente tem o processo dele recuperando as memorias dele, indo até a sua nave com uma excepcional montagem de diálogos com os seus dois pais, o seu primeiro voo após voltar a vida, a sua ida até ao Alfred para poder entender a situação das coisas para, aí sim, ir para Rússia sair no soco com o Steppenwolf.
Além disso, necessito dizer que o Cyborg melhorou em muito no novo corte. Historia de origem, interação com grupo, o seu relacionamento com o pai, esses três pontos melhoram muito e se condiz com aquele pequeno preview que vimos no Batman v Superman, onde o Lex Luthor tinha imagens secretas dos heróis. Agora é compreensível (mais ainda) toda a indignação do Ray Fisher e suas discussões com Geoff Johns e Joss Whedon.
Confesso que para escrever esse texto, eu deveria ter ido assistir este filme, sem nenhum tipo de expectativas em busca de capturar as minhas reações e conclusões sem estar movido pelo hype. Mas, este corte não consegui estar fora do hype, então eu estava muito empolgado para assistir ao Snydercut (é CLARAMENTE perceptível ver a minha alegria depois de ter assistido ao filme pela primeira vez, ao gravar esse episodio) mas o filme, para mim, não teve 100% de acertos.
Após reassistir algumas vezes, houveram alguns detalhes nos quais eu achei desnecessário ter incluído e uma delas foi o Coringa do Jared Leto. Sim, nas primeiras duas vezes achei o dialogo dele com Batman uma coisa digna de Piada Mortal; achei muito incrível ele assumir a culpa pela morte da Lois, que gerou aquele futuro - que agora podemos dizer que é o futuro do jogo Injustice - mas, depois que você reassiste essa cena pela terceira vez, agora com a informação de que esta cena não estava gravada anteriormente, você pensa "esse dialogo faz sentido com o filme?"
Eu faço essa pergunta pois, se você assiste ao Homem de Aço e ao Batman v Superman - Edição Definitiva, você sente que o Snydercut é um filme que amarra varias pontas soltadas lá atrás nestes dois filmes, só para depois termos novas pontas serem soltas. E o fato de mencionar ao Coringa do Jared Leto, é só uma ponte para eu deixar aqui o meu questionamento sobre todo o epilogo do filme.
No fim, da mesma forma que o Snydercut existiu ali para o fã, a inclusão do Coringa do Jared Leto (com um visual diferente do visual do filme do Esquadrão Suicida) é um fan-service, tanto para o ator quanto para o sucesso que o filme Coringa do Joaquim Phoenix fez. E sim, isso chega a ser engraçado de dizer, já que adorei o anuncio do Snydercut e fiquei aguardando os segundos para o lançamento deste corte, mas, sou obrigado a torcer o braço em dizer que, isso talvez não precisasse.
Novamente, digo que utilizo o Coringa do Jared Leto de ponte para comentar sobre o epilogo do filme; onde vou ser mais preciso e dizer das pontas, que haviam sido amarradas ao longo do filme, para serem soltas no final. Por que temos mais cenas do pesadelo do Batman? Por que temos a informação de que o Lex Luthor deu a real identidade do Batman para o Exterminador, sendo que nunca veremos a conclusão disso no filme do Ben Affleck do Batman? Por que o Caçador de Marte faz o chamado do herói para o Bruce, o alertado que há um mal pior vindo? E por que o Darkseid fala pro DeSaad que eles irão invadir a Terra atrás do Equação da Anti-Vida, sendo que nós estamos cientes de que nós nunca mais veremos nada do Snyderverso?

O filme não se estraga por conta destas pontas. É visível que o filme quer terminar com aquele ar de esperança, principalmente por conta do retorno do Superman, mas, essas pontas soltas me deixam com um pulga atrás da orelha. E eu fico com essa pulga, pois, sinto que esse filme era a conclusão que eu queria para todo o universo que o Snyder criou com os outros dois filmes. Se caso eu quisesse ver mais da Liga trabalhando junto, leria as HQs das sagas dos Novos 52 e do Renascimento; se caso eu quisesse ver toda a guerra do Darkseid na Terra, veria as animações e, se caso eu quisesse ver o Superman ditador jogaria o próprio Injustice.
Mas o filme termina com essas pontas soltas. E essas pontas soltas me dão medo do que o estúdio é capaz de fazer. Para mim, o erro de Snydercut é não ter terminado (ou, amarrado todas as pontas soltas, de fato) neste filme.
Nota: ★★★✩✩
A Liga da Justiça de Zack Snyder (Zack Snyder's Justice League - EUA, lançado no dia 18 de Março de 2021) é um filme com o elenco formado por Ben Affleck, Gal Gadot, Henry Cavill, Jason Momoa, Ezra Miller, Ray Fisher, Amy Adams, Jeremy Irons, Connie Nielsen, Ray Porter e Ciarán Hinds. Roteiro de Chris Terrio, trilha sonora do Junkie XL e direção de Zack Snyder. Sua duração final é de 242 minutos (ou quatro horas e dois minutos).